terça-feira, 31 de maio de 2011

Direitos Autorais e Reserva Criativa em Debate







Em geral, são auto-anunciadas como quase alguma outra coisa. Dão as caras, oferecem-se de corpo inteiro como algo que não lhes define inteiramente, e que, logo mais, podem atingir o ápice de quase ter sido o que de outra forma, não seria possível. Contudo, há graus de realização da arte da cover band. É possível fazer um cover insultante e pretensioso que promove releituras que mais dissolvem do que remetem. Há covers incômodos que não conseguem praticar aquele solo em particular – como BasketHead já o fizera como guitarrista do Guns´n´Roses num show em que, surpreendentemente, Guns´n´Roses soava como cover de si mesmo. Outro foi o evento vexatório quando, em 1992, percebeu-se que New Kids on the Block era uma banda que não fazia senão mera alusão do que poderia ter sido. E por fim, aquilo que é o paradigma negativo da história, Milli & Vanilli, que devolveram um Grammy porque, de fato, ao se apresentarem não eram senão a banda cover de Milly and Vannily.








Dos diversos graus em que é possível praticar a falsificação da própria presença, a hipocrisia atinge novos planos quando o ilusionismo participa do evento. Imitar a voz, convidar o resto da banda e fazer as vezes do original até ser tarde demais. Veremos, surpresos, Crosby, Nash & Young cantando Miley Cyrus e seu clássico Party in the USA.

http://stereogum.com/714621/crosby-nash-young-jimmy-fallon-cover-party-in-the-usa/video/

domingo, 29 de maio de 2011

“Olha. Desculpa, tá? Não estou lá muito certo, não sei porque vim, mas sei que precisava. Desculpe, faz muito tempo, acho que até o suficiente para que diga que nunca estive aqui...” do que seguiu um silêncio enorme, extenso e palpável no fundo azul da espera, em que quase tudo, todos se submeteram, sem imaginar o lance incerto do zunido desobediente que em nada alterou; zunido silencioso, forma aguda de impertinência, uma moto. “... e não...”



“Você tá péssimo.”



“Olha. O que eu vim dizer é que, o que eu quero deixar claro é que... bom. Eu estou partindo de vez. E não me olhe assim, não é isso que você entendeu. Estou partindo de vez, mas estou mesmo é me desfazendo, sabe? Quebrando aos poucos, digo, decantando. Estou a alguns dias de ser um poema de Augusto dos Anjos.”

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Autobiografia como contorcionismo







Lee Friedlander, Paris.










(temo não haver mais nada a ser dito, salvo que, fora o aspecto de contorção, há aí uma mímica suicida, não? temo então que isto diga um pouco mais sobre esta história toda, que isto tudo é muito temerário, que dói, que é preciso ter preparo físico e que sou avesso à minha autobiografia.)

Menos que um def-ghi







Ditado é um exercício peculiar de auto-engano. Forte, como todo modelo bem-sucedido. Bem-sucedido porque impõe seus próprios termos, o que em nada tem a ver com o suporte ao melhoramento da espécie humana, dado que isto é coisa bem diferente. Daí vem alguém e lhe diz “almoxarife”. Mas o que a pessoa diz, em geral a pessoa é professora, é “Ahn..., bem, alll... mooo... xaaa... riii... feeee...” e, como que por sedução aprendemos a escrever com um incompreensível corte de vogais. E está feito o exercício. Não importa muito a extensão e a audiência do ditado. Ele só se transforma quando atinge a dimensão do dístico, o que mostra que, por fim, o primeiro plano da vida adulta é o auto-engano, o que permite que se finja sentir a dor que deveras sente. Se em cavalo dado não se olham os dentes, antes um passarinho na mão do que dois voando. E finalmente o ritmo faz parte do ditado, e é enfim como se diz. A coincidência toma parte, não segundo as regras impossíveis do acaso, mas da sincronia e da sintopia; a convergência; a conjunção. Assim. “Almoxarife”, tal como dito na confirmação do que fora dito com vagar, na voz que tartamudeia, confirmando ao ouvinte que ele de fato está a ouvir algo e que, para marcá-lo bem é preciso dizer outra coisa, diferente, a mesma coisa. O ditado precisa de um ponto de fuga, é necessário saber olhar para o outro lado. Para um outro lado.





Por exemplo: def-ghi. O termo designa disparidades e contradições. Juan José Saer, ao prosear em O Enteado, aponta para a palavra (sic) que, repetida para o narrador por diversos indígenas vermelhos em seu romance de viajante perdido na descoberta das Américas, diz um monte de coisas sem que seja excessiva, isto é, sem que tenha perdido distinção e nada mais exprima. Assim, def-ghi diz respeito a: 1) pessoas ausentes ou adormecidas; aos indiscretos que, ao visitar a casa de outrem, demoram-se excessivamente; 2) pássaro de bico preto e plumagem amarela e verde que, quando domesticado dava-se à repetir as palavras das pessoas para regozijo da aldeia, feito um papagaio; 3) objetos de alguém que substituem o mesmo numa dada reunião, cumprindo inclusive o papel de comensal; 4) o reflexo na água; 5) coisa que dura; 6) criança que, ao brincar com as demais, separava-se para interpretar uma personagem; 7) pessoa que ia espiar os inimigos. O sobrevivente de uma nau que atingiu a costa americana de quando do século XVI, e que fora conduzido pela população autóctone até o seio da aldeia de forma demorar-se o suficiente para aprender a língua, ou parte dela e, como sói aos antropólogos, sempre de forma risível e que, invariavelmente está lá junto aos inimigos de seu povo. E nenhum dos termos destacado, e todos em consonância, permitindo ao narrador falar, basicamente sobre aquilo que falavam para ele, e sobre ele a cada momento quando repetiam, apontando-lhe o dedo: def-ghi.
O narrador que, já tendo retornado de forma a marcar o momento no qual a prosa é destilada, encaminha o encerramento já sob o efeito das notícias do fim dos índios que lhe fizeram def-ghi e que, numa só palavra lhe forneceram um relato inteiro. E então, após já dar sinais desse juízo por antecipação, arremata: “Como eles eram o único sustentáculo do exterior, o exterior desaparecia com eles, apartado, pela destruição daquilo que o concebia, na inexistência. O que os soldados que os assassinavam nunca poderiam chegar a compreender era que, ao mesmo tempo que suas vítimas, também eles abandonavam este mundo. Pode-se dizer que, desde que os índios foram destruídos, o universo inteiro ficou derivando no nada. Se esse universo tão pouco seguro tinha, para existir, algum fundamento, esse fundamento era, justamente os índios, que, entre tanta incerteza, eram o que se assemelhava mais ao certo.(...) O céu vasto não os cobria, mas contrariamente, dependia deles para poder desdobrar, sobre essa terra nua, sua firmeza raiada.” .
Igualmente def-ghi, em uma situação em que a extensão do cosmos é o da intimidade, o que explode um no outro, Karen Blixen abre seu jogo, o tabuleiro povoado de acácias de sua Fazenda Africana dizendo, mais à forma de uma administradora, exatamente algo que coincide: “Em geral, eu e Nairóbi mantivemos excelentes relações e, certa vez, ao atravessar de carro a cidade, não pude deixar de pensar: Sem as ruas de Nairóbi, o mundo não estaria completo”.




terça-feira, 10 de maio de 2011

Pergunte ao Melanésio II


















Uma das maiores preocupações da antropologia, enquanto disciplina moderna, está em elaborar analogias funcionais. E se não funcionais, ao menos analogias que funcionem. Grosso modo, o impulso em se orientar por analogias e seu grau de universalidade permite ao analista extrapolar os dados rumo a um plano simbólico comum, o que também já foi mais chamado como espírito humano. De alguma forma, os símbolos teriam traços distintivos essenciais em sua figuração, permitindo que houvesse conexão de ida – da emanação do arquétipo até o simulacro – e de volta – permitindo, via atividade litúrgica ou ritual; não são sinônimos; do simulacro até o arquétipo. Repetindo: em tese, o símbolo tem ida e volta. Em tese. Ida e volta. No entanto, tudo o que o exercício etnográfico fez foi complicar este esquema, em muito sugerido nas vulgatas de religião comparada - lembrando ao fiel mais impaciente que nem toda comparação se fez na base do cuspe-e-cola.





Como é de conhecimento comum do antropólogo descolado – e aí, vai procurar por aí um antropólogo descolado que tenha, de fato lido Os Argonautas do Pacífico Ocidental ou monografia de peso semelhante -, Malinowski dedicou-se em descrever o sistema do Kula por via dos trajetos de navegação, assim como a vida das wagas, as canoas utilizadas para a navegação no arquipélogo Trobirand e adjacências. O kula, na visão de Malinowski é sinônimo de cultura massim, e por via dele são movimentados os fundamentos da economia nativa, entendendo então que é nele que a vida social circula e o código cultural mais específico se exprime. O kula é caracterizado por um sistema complexo, porque extenso de honrarias que não vou me deter em descrever. Malinowski o fez melhor. E depois Annette Weiner. E depois Marilyn Strathern – muita gente. Tô fora. Detesto aglomeração. Mas há, lá pelas páginas quase 200, um parágrafo bacana que é daqueles que confundem o setor das analogias plásticas universais. Malinowski disserta sobre eventos sobrenaturais que podem impedir uma expedição do kula:

De todas as crenças, a mais notável é a de que há no mar enormes pedras vivas, as quais ficam à espera das canoas, correm atrás delas e, saltando, redusem-nas a pedaços. Sempre que os nativos têm razões para temê-las, todos os membros da tripulação se conservam em silêncio, pois que as risadas e a conversa em voz alta atraem as pedras. Às vezes elas podem ser vistas à distância, saltando para fora da água ou movendo-se sobre o mar. Com efeito, foram apontadas para mim quando deixamos Koyatabu(1), e, embora eu não visse coisa nenhuma, os nativos, é claro, genuinamente acreditavam tê-las visto. De uma coisa, no entanto, estou certo: a muitas milhas em nosso redor não havia sequer um recife aflorar nas águas. Os nativos também sabem muito bem que essas pedras vivas são diferentes dos recifes e dos baixios, pois que elas se movem e ao avistarem uma canoa, passam a persegui-la, estraçalham-na de propósito e esmagam a tripulação. Esses hábeis pescadores também jamais poderiam confundir um peixe voador com qualqur outra coisa, embora ao falar das pedras eles com freqüência as comparem aos golfinhos saltadores ou às arraias de ferrão”. (edição Os Pensadores de 1978, página 180)

No caso, e estritamente no caso melanésio, parece que se há um imaginário a ser considerado, o mesmo tem vetor. Isto porque uma pedra saltadora pode se assemelhar com um golfinho ou com uma arraia, mas o contrário não pode ser verdade pois, se assim fosse, os trobriandeses pescariam pedras, o que seria ridículo. Sem saída, pergunto:















E aí, melanésio? Qu´est-que tu me dis?


(1) Sim, a palavra tabu é melanésia. Koyatabu é “montanha proibida”, um endereço da expedição do kula que Malinowski descreve, ainda que à sua forma polaco-escocesa. Tem um traço de Sterne nessa história aí.






quinta-feira, 5 de maio de 2011

Prosa como Fogo Amigo



















Tenho um amigo. É verdade. Não é um grande amigo, pois essa é uma das coisas em que o grau não interfere. É-se amigo, ou não. A disposição é plena. Enfim, não aceito teses e listas dos melhores amigos; sobre melhores amigos; coisa que o valha. Antônio Marcos Pereira é meu amigo e, pelo visto, anda procurando a si-mesmo. Não sei bem o que é isto, mas parece que é o que ele anda fazendo. Tanto preparando uma aula quanto lendo Flaubert, não me parece fazer outra coisa, e gostaria de dizer algo sobre isto. Primeiro, que li O Enteado por sua causa; por sua causa e em causa de meu outro amigo Adevogado. Segundo, que entendo essa história de manquer toi-même como algo completamente diferente que manquer moi-même. E em terceiro lugar, que não me movo de mim because I ain´t no Peter Pan.









Meu amigo é muito bem provido de prosa. E fez um exercício bacana de hipnose em que procura se induzir, sair de si à francesa, como diz o próprio título de algo que ele escreveu. Diz quem “você é” em relação ao ofício que ele mesmo – você, meu caro AMPereira – produz. Veja só que engraçado. Basta mudar o pronome, mover os períodos em seu favor para que a prosa assuma ares de hipnose. Meu amigo é muito bem provido de prosa. Ele gosta de Oulipo. Ele faz voleios com Perec na cabeça e, não por acaso, é um homem que dorme. E por isso, fortemente deslocado. Deslocado? Leia você mesmo.

É um momento de pequeno horror, você sabe que as frases não são suas, mas você não sabe de quem são, e afinal você também duvida, pode ser que sejam suas mesmo, um artifício de combinatória qualquer que você ignora e, de repente, elas saltam aos olhos porque fazem sentido, porque lhe dizem que tudo que você pensa é usado e de segunda mão, tudo que você vive é mais ou menos caótico, mais ou menos obscuro – e, no entanto, digamos, tudo bem, lá vai você escrevendo a vida de um Autor que você admira e, afinal de contas, de onde vem a admiração senão de um momento de clareza fugaz mas ainda vívido na memória no qual, ao ler, você percebe uma zona de obscuridade em si mesmo, descobre que sabia algo que efetivamente não sabe, mas não importa, pois naquele momento você não se envergonha, você não sabe e nisso, sim, você se dilui, igual a todos e capaz de se esquecer de si mesmo por esse momento que seja, pelo menos.


Quero perguntar muitas coisas para responder logo em seguida. Isso porque as perguntas são retóricas e, mais, porque quero dizer algumas coisas para AMPereira, meu amigo. Quero perguntar se o pequeno horror serve como versão masturbatória da petite mort francesa, que não deixa de ser uma forma de sair de si. Isso porque o conteúdo seminal da obra ainda lhe vem como pertencimento que qualquer teste de DNA repete como assombração. É esta zona que faz com que sair de si tenha como garantia que é possível voltar à morada que é, por fim, inescapável ainda que renegada. É por isso que seu ensaio é, antes que uma confissão, um show de hipnose solo; e é por isso que eu escrever “você” aqui é tão diferente de você ter escrito “você”, lá. Esta é uma epístola; aquilo é um exercício de espelhamento, com relógio do avô em pêndulo.

Seu ensaio, meu amigo, diz respeito a sair de si para fazer o exercício básico da biografia como atividade de pesquisa e, mais, de prosa. O ensaio de meu amigo é um parêntese em sua vida como biógrafo de Juan José Saer, escritor cheio de vozes e que, ainda assim, não me vem tão bem. Mas por isso mesmo, li. Nadie, nada, nunca, em português, traduzido pelo mentor de outros tempos do meu amigo. Mas decidi seguir até o entenado, também sugerido pelo meu amigo Adevogado, porque sou antropólogo, e os antropólogos gostam de ler coisas de gente sozinha com índios. Ainda que seja muito falsa a afirmação, e ainda que os antropólogos, em geral sejam lesmas preguiçosas com a atividade da leitura, li. E no exercício de ler O Enteado, traduzido por José Feres Sabino, encontrei meu amigo AMPereira dando uma banda nos trópicos. Saca só:


Nunca se sabe quando se nasce: o parto é uma simples convenção. Muitos morrem sem terem nascido; outros nascem apenas, outros mal nascem, como abortados. Alguns, por nascimentos sucessivos, vão passando de vida em vida, e se a morte não viesse interrompê-los, seriam capazes de esgotar o ramalhete de mundos possíveis à força de nascer uma vez após outra, como se possuíssem uma reserva inesgotável de inocência e abandono. Enteado também, eu nascia sem saber, e, como menino que sai, ensangüentado e atônito, dessa noite escura que é o ventre de sua mãe, não podia fazer outra coisa que começar a chorar. Do outro lado das árvores, vinha-me, constante, o rumor das vozes rápidas e estridentes e o odor matricial desse rio desmesurado, até que por fim adormeci” (na edição da Iluminuras de 2002; pg. 41)


Adormeceu, AM? O exercício lhe permitiu pegar no sono? Porque, ainda que cansativo esta voga de encontrar zonas obscurecidas em si mesmo, e ainda mais, deixar-se diluir, e se deslocar como só a água faz por frestas no chão da vila onde residiam os poemas de Herberto Helder; ainda que cansativo, não costuma deixar ninguém dormir. Você conseguiu dormir, meu amigo? O sono lhe fez bem? Você se esqueceu de si mesmo? A hipnose aconteceu e esta seria a razão de ela lhe ser desejável? Moveste-te de ti?


Encontrar com os índios, me parece, é exercício diferente. Não buscando a si mesmo, nem esquecendo de nada, ser enteado, ou seja, no seio alheio é, mais que tudo, ver o que não se pode esquecer. Há quem diga, e o nome de quem diz é pouco popular, que a diferença só é importante quando ou beira o insupotável, ou é insuperável. Como quando, por exemplo, vemos a carne de nossos amigos ser devorada, assada por uma tribo de velhos imberbes e jovens sedentos e, por alguma razão vemos nossa carne sendo poupada enquanto ouvimos Def-ghi. Sua carne foi poupada, não, meu amigo? A minha, até então, foi.


E por alguma razão, no exercício do meu amigo, esquecer de si é algo diferente de esquecer de mim. É porque, e meu amigo sabe disso, não importando como, não é possível que eu me esqueça de mim, entendendo que qualquer um possa dizê-lo ("eu me esqueço de mim"); não sou eu falando, mas alguém que pode falar em nome de "eu". Meu amigo, enquanto eu se esqueceu dele; deu um jeito de declarar que "eu me esqueci dele" - dele quem? - "eu". Daí a hipnose. Daí o deslocamento. Daí o sono induzido. E houve de acordar.


Todos estavam ali e eram, aparentemente, reais: os assadores tranqüilos e experientes, a multidão, a qual algo intenso e sem nome consumia por dentro como o fogo a lenha, e , envolvendo-os, embaixo, em cima, em torno, a terra arenosa, as árvores que nenhuma brisa balançava e de onde os pássaros, como vôos imotivados e súbitos, entravam e saíam, o céu azul, sem uma só nuvem, o grande rio que tremeluzia e, sobretudo, subindo , lento, já quase no zênite, o sol árido, chamejante, do qual parecia que essas fogueiras que ardiam ali embaixo não erma mais que fragmentos perdidos e passageiros. Terra, céu vazio, carne degradada e delírio, com o sol em cima, passando, desdenhoso e periódico, pelos séculos dos séculos: assim se apresentava, essa manhã, ante meus olhos recém-nascidos, a realidade.” (idem.; pg. 51)


Percebeu que comecei a falar de nós, e não mais de você, meu amigo? Nos encontramos sem que eu tivesse que me mover de mim, porque não sei nada dos truques de hipnose. É assim que se sai de um sono de se esquecer de si?


Acho que é hora de revelar que, sim. Pode ter sido eu. Posso ter devorado uma ou duas panturrilhas de seus companheiros de viagem.


E daí que eu li sua forma clara e límpida de não ensinar nada em outro ensaio – sendo os ensaios a forma maior de elogio dos canibais. E li que correu atrás de você mesmo. Parece que no sono, e ao acordar, ficou ainda mais difícil. Efeito delicado este, o de esquecer-se de si e ver que, nisto, deu vontade de correr atrás de você. Parece que você faz falta.


Eu? Sair de mim? Não. Prefiro sair dali. E aí, elogio o nomadismo pela enésima vez nesta vida.